A Parada do Orgulho Gay, um festival comemorado internacionalmente pela primeira vez em Nova York, teve sua origem na Revolta de Stonewall Inn, o marco zero do movimento de igualdade civil dos homossexuais no século XX. No dia 28 de junho de 1969, data em que é comemorado o dia internacional do Orgulho Gay, houve uma revolta da comunidade LGBTQIA+ contra a série de invasões da Polícia de Nova York (NYPD) aos bares que eram frequentados por homossexuais, estes que sofriam represálias das autoridades locais.
No Brasil, o segundo evento que mais atrai turistas é a Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, perdendo somente para o carnaval do Rio de Janeiro, que acontece desde 1997. Em Maceió, o evento acontece desde 2000, e em 2012, na sua 12ª edição, houve coleta de sangue e teste rápido para HIV. Uma festa de uma comunidade que ainda tinha muito para conquistar no âmbito de seus direitos.
Este ano, JHC resolveu cair nas graças do reacionarismo e promover um vexame: proibir administrativamente e perseguir judicialmente os organizadores e o evento, tentando impor uma decisão de primeira instância (derrubada pelo TJ/AL) e coagiu, por meio da Guarda Municipal, um dos organizadores à Central de Flagrantes; mas não para por aí, O DMTT também foi envolvido na confusão e determinou que os trios elétricos fossem retirados da Orla.
Em síntese, JHC utilizou o aparelho estatal para restringir os direitos dos cidadãos alagoanos e turistas que esperavam prestigiar o evento com tranquilidade. Uma vergonha para um prefeito de primeira viagem que, ao invés de preocupar-se com os problemas reais de Maceió – e vale destacar que não são poucos -, resolve fiscalizar o traseiro alheio e cercear o direito constitucional de reunião.
Além disso, viralizou um stories de um prestador de serviços ironizando os simpatizantes do evento em tom pejorativo. Coincidência ou não, a tentativa de restringir um evento que prega igualdade e liberdade, por parte do prefeito JHC, aconteceu na mesma semana em que seu irmão foi levado para a Central de Flagrantes, suspeito de violência doméstica.
Em meio às polêmicas, uma atitude chamou a atenção por seu simbolismo: a prefeitura não ativou a iluminação da Orla de Maceió, que está recheada de decorações natalinas e símbolos do cristianismo. Um recado nas entrelinhas para o público que compareceu ao evento de que eles não são dignos de estarem ali, ou mais ainda: que não pertencem a Deus. JHC parece contrariar até o próprio Papa Francisco, que em Agosto deste ano, declarou que a Igreja deve ser aberta à comunidade LGBTQIA +.
É bem verdade que o Governo do Estado patrocinou o evento. O patrocínio deve ser em prol do povo alagoano para financiar as despesas de um evento público realizado todos os anos, neste caso a Parada Gay, que possui legitimidade para acontecer e para ser patrocinado. Mas o que se viu foi um “comício fora de hora”, como protagonizado pela Kátia Born, titular da SEADES (Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social de Alagoas), que discursou no trio elétrico do evento e proferiu ataques políticos à JHC, levantando dúvidas sobre os reais motivos para o patrocínio.
Kátia Born não foi a única que falou ao microfone. Sâmya Suruagy, Procuradora Geral do Estado, discursou no evento, proferiu palavras de baixo-calão e entoou palavras de ordem de forma indireta. Esta, que também é tia do governador Paulo Dantas, foi alvo de críticas no ano passado ao chamar a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro de “vagabunda” – posturas que são, no mínimo, inadequadas e incompatíveis com o cargo que ocupa.
Um evento que era para ser sobre liberdade, igualdade e a defesa dos direitos dos civis da comunidade LGBTQIA + virou palco da disputa política entre os mesmos grupos políticos que levantam suas diferenças até onde as discussões não cabem.
Como citado no título da matéria deste Blog, escrita por Kléverson Levy, JHC e Dantas parecem não entender a cadeira que sentam e o cargo que ocupam. Talvez até compreendam, mas utilizam do poder para satisfazer seus interesses, mesmo assim, como crianças que ignoram o decoro e a classe à qual pertencem, brigando como meninos pequenos e dividindo o povo alagoano.
Por Caio Hanry Abreu – Acadêmico de Direito (Colaborador)
Este texto reflete a opinião do autor.
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