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Caio Hanry Abreu escreve: A direita moderada já tem um nome para 2026?

O governador do Estado de Goiás, Ronaldo Caiado (UNIÃO-GO), concedeu uma entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo e ao advogado Walfrido Warde, no podcast Reconversa. Numa entrevista diversificada, com vários temas sensíveis, Caiado reafirma seu alinhamento com Bolsonaro e seu compromisso com o eleitorado direitista, diz respeitar a ciência e apoiar as vacinas, apoia a política armamentista e, caso fosse senador, votaria a favor da candidatura de Flávio Dino. Por quê?

A começar por seu espectro político, Caiado não esconde ter afinidade com a direita e é enfático em temas que são sensíveis a este espectro, como a segurança pública — note-se, Goiás é um dos estados mais seguros do Brasil. Ainda sim, também defende investimentos na Educação, na teoria um tema associado ao pensamento de esquerda — Goiás também é um Estado referência em educação. Caiado define a direita moderada em quatro pilares: liberdade, propriedade, pesquisa/ciência e livre mercado.

Na segurança pública, Caiado foi elogiado publicamente por Flávio Dino durante um evento no Palácio das Esmeraldas, residência oficial do Governador de Goiás. Defende uma política de segurança que mostre resultados sem violência, truculência, tortura, e em paralelo, o cumprimento da ordem. O Governador também foi enfático ao debater sobre o sistema carcerário: afirmou que quase metade dos presidiários estão presos sem sentença transitada em julgado, o que configura um excesso por parte do Estado Brasileiro no geral. Também defendeu melhores condições para os presidiários, e em paralelo, menos privilégios e regalias — contou que quando chegou ao governo, havia uma espécie de “motel penal”, onde o dono da facção dominante controlava, e que ao visitar Goiás, a então Presidente do STF, Carmen Lúcia, não conseguiu sair da sala do Presidente do TJ/GO por falta de segurança.

Na Educação, Caiado investiu mais de R$6 bilhões e colocou o Estado de Goiás no topo do IDEB, além de ser o penúltimo estado no ranking de evasão escolar — num modelo parecido com o de Alagoas, o Governo de Goiás distribui R$110 para os estudantes como uma forma de combater esse fenômeno.

O atual governador de Goiás sempre transitou por partidos de direita (PSD, PFL, PPR, DEM e UNIÃO) e é integrante de uma das famílias mais tradicionais do Estado de Goiás. Foi deputado federal por 20 anos e senador por 4 anos, interrompendo seu mandato para candidatar-se ao governo de Goiás em 2018, eleito no primeiro turno e reeleito em 2022, também no primeiro turno. Caiado integrou a bancada ruralista durante toda a sua passagem pelo Congresso Nacional. No seu primeiro mandato como Governador de Goiás, Caiado nomeou 15 secretários, e apenas 6 eram vinculados a algum partido (DEM, PSB e MDB) — uma característica de políticos de centro-direita, para evitar pressões partidárias e manter um secretariado mais técnico do que político.

Em momentos históricos do Brasil, Caiado se posicionou contra o impeachment de Fernando Collor, foi um dos principais articuladores do impeachment de Dilma Rousseff e denunciou, já em 1989, um esquema de corrupção que estouraria em 2005: o mensalão (na época, menor, conhecido como Caso Lubeca). De fato, Ronaldo Caiado é um dos políticos que foi uma pedra no sapato dos petistas e de partidos considerados de esquerda.

Mas por que o Governador não esconde sua afinidade por temas que a turma bolsonarista não simpatiza? É simples: Caiado é médico e vem do ramo científico, execrando a cultura negacionista, a começar por ter adotado e respeitado o distanciamento social na pandemia de COVID-19. Foi um governador que apoiou e incentivou a vacinação, recebendo críticas pesadas da extrema-direita.

Hoje em dia, Ronaldo Caiado adota uma postura moderada, atraindo eleitores de todos os espectros; mas não foi sempre assim. Caiado sempre foi um algoz do MST, movimento ligado ao lulopetismo, inclusive defendendo que algumas condutas sejam criminalizadas. Chegou a afirmar, em 1996, que o MST promovia uma “verdadeira guerrilha” no Pontal do Paranapanema — região que compreende 32 municípios do Estado de São Paulo.

Outro tema sensível que o Governador de Goiás não se negou a responder foi a indicação de Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal. Caiado afirmou que apesar das diferenças ideológicas, reconhece que Dino possui um notório saber jurídico e é extremamente técnico no meio jurídico, principalmente por ter sido magistrado. Mas, qual é o peso da fala de Caiado? Simples: a turma bolsonarista, recentemente, convocou um ato nacional contra a indicação de Dino — estes que foram discretos, chegando a ocupar somente um quarteirão da Avenida Paulista, principal medidor do volume das manifestações nacionais. A escolha de Caiado claramente não agrada à direita bolsonarista, que prefere um político radical e que não converse com políticos e partidos de oposição ou de esquerda.

O governador de Goiás não é acusado de corrupção, no entanto, nomeou algo em torno de 20 parentes para importantes cargos comissionados, a exemplo de Ênio Caiado e Ubirajara Caiado. Ronaldo Caiado afirma que parte dos governantes do Brasil “tem um dono”, que controla as ações do governo e, pasmem, que determinam a atuação da Polícia Militar.

Os eleitores de centro-direita e da direita parecem ter encontrado um candidato moderado em meio à inelegibilidade de Jair Bolsonaro, que defende um sistema de governo presidencialista, onde o executivo se impõe ao legislativo, e deu o exemplo das verbas discricionárias, que hoje estão nas mãos do Congresso Nacional — algo que acontece desde a década de 80, mas que de forma escancarada foi potencializada por Jair Bolsonaro (na gestão de Dilma Rousseff, a média foi de R$3,8 bilhões por ano; na gestão de Michel Temer, R$4,8 bilhões; Bolsonaro, por sua vez, no ano de 2020, por meio da famosa RP9, distribuiu R$20,1 bilhões). Vale lembrar que Michel Temer liberou R$6,6 bilhões via RP6, emendas individuais e impositivas (de execução obrigatória no orçamento), na véspera de duas denúncias feitas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o então Presidente por suspeita de corrupção passiva.

Em meio à indefinição e o vazio que Bolsonaro deixou ao ser condenado à inelegibilidade, Ronaldo Caiado declarou ser pré-candidato à presidência em 2026 com esse mesmo discurso. Será? A ver.

Por Caio Hanry Abreu – Acadêmico de Direito (Colaborador)

Este texto reflete a opinião do autor.  

Kleverson Levy

Especialista na cobertura política em AL

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