Encerrado o 2° turno no país, a análise de respeitados estudiosos é unânime: o dito ‘centrão’ é quem comanda o país. Partidos como MDB, UNIÃO, PSD e PP, considerados de centro, formam um bloco gigantesco e demonstram a força dos caciques políticos, a exemplo de Gilberto Kassab (PSD), que dirige o partido mais poderoso do país.
No entanto, Alagoas não repete o cenário e prova que continua com uma política repleta de particularidades.
O PSD de Kassab é o cérebro do Governo de São Paulo, e ele mesmo ocupa a Secretaria de Governo e Relações Institucionais. O partido elegeu 206 prefeitos somente no Estado de São Paulo, e irá comandar 4 capitais. Ricardo Nunes, apesar de estar no MDB, representa a vitória de Tarcísio e Kassab. Além da força em São Paulo, Kassab também comanda três ministérios do Governo Federal, e não são quaisquer ministérios: Agricultura, Pesca e Minas e Energia. Porém, em Maceió, o PSD elegeu somente um vereador (Rui Palmeira) e não elegeu nenhum prefeito no interior do Estado.
O PT se fortaleceu conquistando 68 prefeituras a mais do que em 2020, totalizando 252, sendo 1 capital. Contudo, Lula saiu derrotado nestas eleições. Bolsonaro também sofreu derrotas importantes, no entanto, o PL de Waldemar da Costa Neto elegeu 166 prefeitos a mais do que em 2020, totalizando 517, sendo 4 capitais. Em Alagoas, PT e PL não fizeram sequer cinco prefeituras somando os dois partidos.
A análise política está longe de ser fácil, principalmente quando é feita ou lida por pessoas que não conseguem dissociar a ideologia pessoal dos fatos — ainda sim, há quem os exponha. A priori, nos atentemos ao cenário nacional:
Lula saiu derrotado das eleições, mas o PT se fortaleceu (menos do que gostaria, e integrantes da cúpula culpam o Governo Federal). O partido do Presidente da República acusa Lula de ceder espaços importantes ao dito centrão para conquistar o apoio dos partidos no Congresso Nacional, mas alega que o União Brasil, por exemplo, não tem votado com o Governo e defende que uma reforma ministerial seja feita urgentemente, com foco em 2026. Lula perdeu eleições importantes, como por exemplo em São Paulo, apoiando Guilherme Boulos, em Cuiabá apoiando Lúdio Cabral, e em Aracaju apoiando Ricardo Marques.
Bolsonaro saiu derrotado das eleições, mas o PL se tornou um dos grandes partidos da política nacional (há quem diga, dentro do PL, que Bolsonaro mais tirou votos do que trouxe, nestas eleições municipais). Em Maceió, JHC não dependia de Jair Bolsonaro e seu apoio para vencer, pois boa parte de seu eleitorado foi conquistado pelo grupo político local (Rodrigo Cunha e Arthur Lira, por exemplo, integram este grupo). Parte dos vereadores do PL, como Galba Netto e Luciano Marinho, também não dependiam do voto bolsonarista.
O centrão, grupo fisiológico que não é formado por partidos, mas por políticos que representam interesses de empresas e setores fortes da economia (a exemplo do agronegócio), foi o grupo que saiu fortalecido nessas eleições municipais. Há quem defenda a investigação da influência do uso das emendas parlamentares em período eleitoral, afinal, foram mais de R$30 bilhões destinados a políticos do Congresso Nacional. Rafael Brito (MDB), que foi candidato à Prefeito em Maceió, por exemplo, é Deputado Federal. As emendas parlamentares são, em maioria, destinadas a políticos que transitam pelo centrão.
Alagoas x 2024
Em Alagoas, o MDB conquistou 62 prefeituras. No entanto, é uma ideologia e, praticamente, um partido ao avesso do MDB nacional. Baleia Rossi, presidente nacional do partido, e Renan Calheiros, cacique do MDB nacional e local, não têm as melhores amizades (Renan já ameaçou judicializar uma convenção do MDB).
O MDB local garantiu o resultado graças ao forte apoio Calheirista no interior e conquistou cidades importantes, como Arapiraca, segundo maior colégio eleitoral do Estado. Nacionalmente, o MDB é visto como um partido que integra o centrão. Em Alagoas, Renan Calheiros é um forte aliado de Lula e, portanto, seus aliados são eleitos, natural mas não somente, com os votos ideológicos de centro-esquerda e esquerda.
Arthur Lira, com o PP, representa o centrão em Alagoas e faz uma rivalidade um tanto amigável com Renan. No interior, em alguns momentos, os grupos se uniram para eleger um candidato. Nas cidades que rivalizaram, como em Maceió, os votos de centro-direita e direita foram para os candidatos apoiados por Lira.
Por fim, analisando os resultados das eleições, conclui-se que a polarização Lula x Bolsonaro está decaindo, visto que ambos perderam e seus partidos venceram (o PT teve uma vitória tímida e o PL uma vitória larga, apesar de considerada pequena por seus integrantes). Lula não terá um rival tão à direita em 2026, visto que Jair Bolsonaro está inelegível e Pablo Marçal enfrentará o rigoroso julgamento da Justiça Eleitoral. No entanto, em Alagoas, a polarização Calheiros x Lira segue a todo vapor em muitos municípios, mas em alguns, se unem em prol de um candidato.
No cenário nacional, é possível ver a mudança acontecendo. No cenário local, não há mudanças — a política segue igual, e o Estado também: 60% da população do Estado está na linha da pobreza. Enquanto a população alagoana não acompanhar a evolução do país, o Estado continuará com os piores índices entre os nacionais. Mas o que importa são shows e festividades, não é?
Por Caio Hanry Abreu – Acadêmico de Direito (Colaborador)
Este texto reflete a opinião do autor.
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