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Caio Hanry Abreu: A escravidão implícita em um anúncio de emprego

É preciso ter estômago para viver no país em que vivemos, em um estado tão pobre como Alagoas, e presenciar a verdadeira escravidão moderna. Não basta a fome e o sofrimento do povo alagoano: alguns empresários precisam explorar o próprio povo para lucrar.

A maioria do povo pensa que a data em que vivemos é a era da modernidade, da tecnologia e do trabalho valorizado. Mas isso não chega para boa parte da população, em especial a de Alagoas. A sociedade nem sempre evolui: há momentos de retrocesso.

Há uma ilusão de que o passado é melhor do que o presente, por exemplo, a escravidão. Existem pessoas, obviamente herdeiros e filhos de senhores de terra, que sentem saudade de não ter que pagar por mão de obra. Pessoas que detestam valorizar o trabalho do proletariado, que está sempre em busca de melhorias.

O bom empresário sabe que, ao valorizar seus funcionários, ainda que não sejam permanentes, os resultados são excelentes: aumento de receita e captação de clientela são dois ótimos exemplos. Mas parte do empresariado alagoano parece detestar o correto e despreza a moral e a ética, praticando o que se conhece por capitalismo predatório: o lucro através da exploração.

O Brasil possui a escravidão como uma raiz profunda que talvez nunca seja arrancada do nosso solo. Como citou brilhantemente Joaquim Nabuco, em seu livro ‘Minha Formação’: “A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”.

O mesmo autor diria que o escravagista é até mesmo insciente e ignorante da própria truculência e indecência, e quem o serve é ignorante da própria subserviência; e essas características se refletem até em um anúncio de emprego, este que será exposto para o leitor beira à barbárie e a insanidade de quem o fez.

Essa vergonha será, agora, destrinchada, a começar pela carga horária. O trabalho inicia às 17:00 do dia 31/12 e encerra às 12:00 do dia 01/01. São 19 horas de trabalho, e o anunciante informa que o tempo da refeição está inclusa no horário programado. A alimentação também é por conta do empregador: jantar, lanche da madrugada e café da manhã; mas, há uma observação para o empregado levar o almoço e deverá almoçar no ônibus, ou seja, não terá a dignidade de comer no local e no tempo adequado. E tudo isso por R$180,00!

Parece muito para um dia, e infelizmente, realmente é. A média de um trabalhador normal é de R$44,00 por dia, considerando o salário mínimo como base.

A miséria é tão gritante que existem pessoas que aceitaram trabalhar nessas condições, e quando o empresariado não se dá conta da própria excrescência e dos absurdos que produz, é papel do Estado intermediar a relação empregador/empregado e impor limites, principalmente por se tratar de uma relação desigual. Mas, com a reforma trabalhista, o pactuado invalida a legislação — o que reflete bastante a falta de vergonha na cara do próprio Congresso Nacional em ter aprovado tal norma.

Infelizmente, as relações de trabalho estão cada vez mais degradantes, e a vergonha na cara dos empregadores está cada vez menor.

Por Caio Hanry Abreu – Acadêmico de Direito (Colaborador)

Este texto reflete a opinião do autor.  

Kleverson Levy

Especialista na cobertura política em AL

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